sábado, 29 de outubro de 2011


É quando estamos longe que percebemos o tamanhão de todo o mal que podemos fazer, sem querer. Ser humano é egocêntrico por essência, instinto ou sei lá o quê. Sorte que temos um coração que pode nos salvar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Nada me encantou

Fui pega falando essa frase para um querido amigo logo após a Bienal no Livro (10/09/2011): nada me encantou. Nunca fui (e creio estar bem longe de ser) uma criatura organizada. Acredito que na hora da escolha das minhas características, Deus disse: joga a organização fora. E não é que jogaram mesmo? Ô pai, reclama com eles lá de cima, ó. Não fui capaz de organizar uma listinha sequer com os livros que gostaria de comprar, que fariam meu coração sorrir após tantos desencontros. Contei apenas com a ajuda da memória, e a danadinha resolveu fazer as malas e ir embora logo naquela manhã... Sorte ou azar.
Andei por todos os lados, pavilhões azuis, verdes, laranjas... E nada fez meus olhos brilharem. Livros de romance, suspense, revistinhas de quadrinho (fala aí, Luizão!), e nada, nadinha me chamou atenção. A propósito, um dos únicos que me deixou com um certo indício de água na boca foi "Casamento aberto", uma história romântica de Nena O'Neill e George O'Neill que prioriza a valorização das amizades durante um casamento. Blé. Não me encantou. Lanchei, andei um pouco mais aqui e ali, encontrei amigos e, por fim, me rendi ao cansaço, deitei naquela maravilhosa grama e descansei embaixo do sol.
E então comecei a pensar no motivo pelo qual meu coração não acelerava, minhas veias não ficavam quentes, minha imaginação não fluia e minha curiosidade não dispertava, por nada. Não tinha motivo. Não tinha razão. Foi simples assim: o dia não estava encantador pra mim. E por isso eu não fui capaz de me encantar por nada. Vaidade dizer que não encontrei UM livro bom na Bienal, né? Tinham sim... E muitos. Mas nenhum que pudesse me confortar diante da situação que eu vivia, porque acredito que os livros sirvam também pra isso. Pra nos fazer companhia, nos mostrar que não estamos sós em meio aos problemas e que as palavras têm, sim, poderes mágicos. Cheguei em casa, olhei para o meu companheiro de cabeceira atual, que ainda não terminei de ler, e pensei: seu trabalho ainda não terminou



...e meu coração ainda não congelou. Obrigada!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mentalizo



Eu parei pra pensar em tudo que desejo pra você e pro seu coração. Parei pra pensar em todas as estradas cheias de luz e felicidade que enxergo pelo seu caminho daqui pra frente. Parei pra pensar em todos os seus sorrisos e o quanto sou feliz por eles ainda existirem e serem distribuídos para outras pessoas. Parei pra pensar na felicidade e na sorte dos que te querem bem e têm você por perto, e me alegro por eles. Parei pra pensar na sua saúde, no quanto desejo que seus planos saiam do papel. Parei pra pensar nos seus dias de impaciência e desejo que ela vá embora devagarzinho. Parei pra pensar na sua ternura e rezei pra que ela não fosse embora nunca. Parei pra pensar ontem, hoje e vou parar pra pensar amanhã também.
Mentalizo bons sentimentos nesses dias, e sei que eles chegam até você. Sei também que você sabe que são meus, mas que jamais poderia demonstrar isso. Mentalizo, de longe, que você não se perca pelo meio do caminho, e caso isso aconteça, que encontre a motivação necessária pra se achar de novo. Mentalizo que você nunca deixe de lado a sua vontade de fazer o bem, afinal, esse é o motivo pelo qual tantos se apaixonam pelo seu coração. Mentalizo que todos os dias quando acordar você pense que tem um bocado que gente que depende de você, e use isso a seu favor. Mentalizo que nas suas horas de almoço você tire um tempo pra pensar na vida e nas pessoas que fazem parte dela, mesmo que eu já não faça. Sejam lá dez ou quinze minutos, te farão bem. Mentalizo que seja compreensivo com os que já lhe fizeram mal um dia - e sei que me incluo nesses poucos -, mas que seja forte o bastante para perdoá-los. E perdoe-se de vez em quando também.
Por fim, mentalizo que um pouco antes de dormir, você lembre de mim com carinho. Um pouquinho só, não mais que os dez ou quinze minutos da hora do almoço. E então durma...

Felicidades!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Então,

É arriscado demais ter que desmoronar o próprio coração para reconstruir o de alguém. Não é?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O fim do

encantamento tornou-se real, natural, simples, sem dor. Sem dor? Como se duas vidas entrelaçadas pudessem desatar os nós sem causar tormento.

Boa noite.

domingo, 5 de junho de 2011

Abre aspas

Não é medição de dor. Não é nem dor, se quer saber. É um bem querer desgovernado, só isso.

Fecha aspas

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Lapsos

Ando tendo lapsos que, de tão constantes, merecem ser divulgados. Não só como forma de desabafo, mas também como inovação. Já dizia Martha Medeiros: "A vida é inventiva". De nada adianta viver de rotina. Então mudaremos, por hoje sem crônicas, sem desamores, sem exageros. Teremos uma uma história real, uma história minha, e que medo isso me traz.

Deixe-me explicar.

De uns tempos pra cá tenho tido grande dificuldade de concentração - o que não é nada sobrenatural, todos nós passamos por isso, eu espero -, o que também explica grande parte da minha distração e silêncio. Aliás, acho que trago essa dificuldade na mala há bons e longos anos, interpretem como quiser. Alguns amigos e familiares sugerem um tipo de "lerdeza" (santa paciência!), eu sugiro o desapego. Porém, dia após dia, fui apresenta a diversas situações completamente embaraçosas que, além de me tirarem o fôlego, me fizeram perceber que não satisfeita com a falta de concentração, tenho tido falta de memória. Sem piadas, pessoal. Isso é sério.

Então vamos às exemplificações.

Segunda-feira, 31 de maio de 2011. Lá estava eu, morrendo de sono, deitada numa poltrona de um ônibus rumo ao Rio de Janeiro. Nada de anormal, rotineiro que só. Até que sinto falta da chave do apartamento onde moro. Meu Deus! Como pude esquecer o que é mais importante? Entrei em desespero. Não só por pensar que estava sem a chave, mas por pensar que estava sem o celular - dessa vez, sim, síndrome da lerdeza crônica -, e que não poderia me comunicar com ninguém até a partida do ônibus. "O que fazer?", pensei. Após alguns minutos de silêncio, resolvi pedir o celular da moça que sentava na minha frente. Ah, como não havia pensado nisso antes? Uma moça tão boazinha, tão gentil, jamais me negaria uma chamada a cobrar feita pelo seu celular.

Então vamos lá, deixando a vergonha de lado. Pedi. Ela emprestou. Fiz a ligação e uns minutinhos depois meu pai estava lá, meu herói, trazendo a chave do apartamento na mão. Merecia um beijo bem estalado como despedida e agradecimento, o fiz. Então voltei para o ônibus. Sentei, mais uma vez, na minha poltrona confortável, e quando já me preparava pra dormir, me veio o pensamento: "Eu devolvi o celular pra moça da frente?"

Não devolvi. Guardei dentro da mochila, sem perceber. Não guardei. Ah, coloquei no bolso da calça. Não coloquei. Então caiu no chão. Não caiu. Pensei: "Sou uma ladra!". Mas uma ladra por distração, diga-se de passagem. Passei as duas horas de viagem me martirizando e pensando em como poderia me desculpar e recompensar a moça pelo dano. Nem dinheiro eu tinha, meu Deus, nem dinheiro. O que aquela mulher poderia exigir de mim? Me levaria presa, de fato. Sairia nas manchetes dos jornais: "Garota de 18 anos é presa por roubar o celular de uma pobre moça dentro do ônibus!". Ou então: "Garota de 18 anos é jogada pela janela do ônibus por uma senhora de 35. Motivo: o roubo de um celular!". Ela era boazinha, tenho certeza disso. Mas não me perdoaria porque tenho um belo sorriso. "Cara de pau essa garota, hein?", todos pensariam. Eu também pensaria, caso não fosse distração. E foi.

Não consegui dizer uma palavra àquela senhora durante toda a viagem, quis inúmeras vezes segurá-la e dizer: "Moça, me diz, pelo amor de Deus, que eu devolvi o celular pra senhora?". Não disse, não tive coragem, não queria adotar esse novo fardo pra minha vida: ladra. Ladra de celulares. Ladra de celulares de moças boazinhas e gentis. No que pude me transformar? Passados os mais longos cento e vinte minutos da minha vida, vejo a delicada moça puxando o celular da bolsa para verificar a hora. Nunca fiquei tão feliz por ver um aparelho daquele na minha frente, ainda mais o dela, que eu não havia roubado, havia apenas esquecido que entreguei. Minha vontade era puxá-la e dizer: "Nunca mais empreste o seu celular pra gente com falta de memória, ouviu? Nunca mais."
Será que eu disse pelo menos "obrigada"? Acho que não.

Então, o texto de hoje é dedicado não só à minha falta de memória, que quase me fez passar mal numa manhã de segunda-feira, mas também à gentil moça que nos tempos de hoje ainda confia o celular nas mãos de uma estranha.
OBRIGADA!

domingo, 17 de abril de 2011



Por hoje eu só queria dizer que sinto muito. Queria dizer que sinto muito pelos dias cheios de nuvem em que não pude fazer nascer um sol só pra você. Queria dizer que sinto muito pela minha imaturidade, e dizer também que nada do que houve me fez desgostar ou deixar de gostar um pouquinho que seja de você. Queria dizer que sinto muito pelos dias em que precisou, inacessantemente, da minha presença, e que não pude fazê-la em corpo. Nossas dificuldades sempre caminharam lado a lado conosco, não é mesmo?


Queria dizer que sinto muito, sinto tanto, por ter sido uma menina no momento em que precisava ser gente grande, mas é que ser gente grande às vezes é tão difícil. Queria dizer que sinto muito por ainda acreditar em finais felizes e contos de fadas enquanto você precisa ser mais que isso, sabe? Queria dizer que sinto muito por não ter acreditado em você, por não ter acreditado em mim, e, com isso, ter desacreditado de nós. Queria dizer que sinto muito por ter me virado ao avesso inúmeras vezes em prol da sua defesa quando o assunto era só seu. Como você mesmo vê, essa mania de carregar o mundo nas costas ainda me persegue.


Queria dizer que sinto muito pelo término das nossas infantilidades - nos poucos momentos em que podíamos ser infantis -, das nossas brincadeiras sem fim, mesmo que por poucos minutos. Queria dizer que sinto falta de crescer com você, de ser com você. E queria dizer que sinto muito por sentir tanto, mas sinto mais ainda por não querer dizer adeus, por não poder dizer. Por hoje eu te digo até logo, até amanhã, fique bem, durma com Deus, se cuide, juízo. Mas adeus? Ah, adeus não... O nosso adeus eu deixo pra um dia chuvoso.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

De tempo em tempo


A vida, de tempo em tempo, reserva pequenas dádivas que nos são apresentadas em formas de abraço, de gente, de aconchego. Abraços tão acolhedores, gente tão motivadora e aconchegos tão semelhantes às preces que pensamos estar sendo presentados. E estamos. A vida, de tempo em tempo, reproduz momentos inesquecíveis ao lado de pessoas extraordinárias, estejam elas presentes há muito ou pouco tempo em nossas caminhadas. Mas quem vai se importar com o tempo quando o assunto é a vida?

A importância dada a cada situação vai de acordo com a necessidade criada. E a vida, de tempo em tempo, cria necessidades assustadoras. Necessita-se estar em casa, mesmo fora dela. Necessita-se conhecer gente, se espelhar em gente, crescer como gente. Ou simplesmente ser um pouco mais gente, gentilmente. Necessita-se ser só felicidade, sem espaço pra angústia. Pra nostalgia. Pra saudade. Saudade?

A vida, de tempo em tempo, prega peças indiscutivelmente forçosas. Não como uma maneira de castigar ou repreender, mas como desafios que devem, sim, nos trazer aprendizado e satisfação pessoal. E com o tempo a gente tenta, a gente aprende, a gente se acostuma, mas não se acomoda. Nesse domingo com jeitinho de família reunida num jardim florido e cheiro de algodão doce, um "salve" para os que tentaram e conseguiram, para os que tentaram e não conseguiram, mas em especial para os que jamais deixarão de tentar.

terça-feira, 8 de março de 2011

Nostalgia

Manhã de sexta-feira, o dia amanheceu diferente para pelo menos trinta e sete corações aqui presentes. O desespero e a alegria, quando juntos, trazem uma sensação terrivelmente difícil de ser descrita, assim como as tão famosas borboletas no estômago. Não se tem uma exatidão sobre elas, sequer sabemos de onde elas vieram, mas sabemos que estão lá. O dia amanheceu irrevogavelmente diferente, os pásssaros cantarolavam em leves tons de despedida e a saudade resolveu se fazer presente de uma só vez, sem piedade. Ouvi dizer, certo dia, que a saudade deve ser cuidadosamente parcelada, pois ela se torna insuportável quando é lembrada em um só instante. Porém, agora, no fim de tarde, além da saudade me resta um amor imensurável por cada um de vocês que fizeram parte da minha vida por todo o ano letivo.

Pós a afobação trazida pela manhã, pelo resto do dia fui flagrada inúmeras vezes pensando no que poderia dizer para cada um de vocês em nossa última estada juntos, e não posso esconder que um turbilhão de sentimentos se fez presente em mim, trazendo consigo uma urgência inexplicável. O que eu poderia dizer para os professores, para os funcionários, e para vocês, meus amigos de classe? Para o Axl eu diria o quão gratificante foi pra turma tê-lo presente. Para o Luiz Carlos diria que as suas perguntas magníficas nas aulas de Biologia também foram produtivas pra nós. Para a Amanda diria que discrição é fundamental, mas que seu jeito espalhafatoso torna qualquer aula mais divertida. Para o Pedro diria que quem faz a nossa sorte somos nós. Para a Raiane tentaria explicar que a vida não é fácil, mas que ninguém disse que seria.

Agora, e pra vocês, professores e funcionários? Para o Bambam eu diria que além do carisma, a honestidade prevalece no julgamento do caráter, e ainda assim ele se torna um exemplo. Para o JJ diria que seu jeito de dar aula é encantador, assim como a sua pessoa. Para o Luciano diria que pessoas “brutas” não necessariamente são insensíveis, e ele é a prova disso. Para o Calixto diria que seu senso de humor não pode ir embora, mesmo com muita luta. Para o Raphael diria que suas piadas alegraram muitos dias nublados. Para o Rodrigo diria que seu sorriso foi o responsável por inúmeras alegrias. Para o Erivelton diria que suas músicas, por muitas vezes, animaram nossas manhãs.

Mas como eu poderia resumir tantos desejos e tanto sentimento numa só linha? Encontrei uma frase perfeita, que serve tanto para os alunos, quanto para os professores e funcionários. Se eu pudesse dizer algo a vocês, hoje, diria: “Vou morrer de saudade."

Formatura de 2010 (17/12/2010) - Surpresa Final

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Bem sem saber




Existem pessoas que provocam o bem sem saber, e talvez por não saberem o tamanhão de todo o bem que fazem, são encarregadas por essa tarefa durante uma vida inteirinha. Existem pessoas que provocam sorrisos de graça, sorrisos que lembram um fim de tarde fresco em um jardim qualquer. Existem pessoas que trazem de volta a felicidade quando, no momento, ela parecia não mais existir. Nem ali, nem em qualquer outro lugar do mundo. Existem pessoas abençoadas, pessoas que tem formas de prece. Formas tão diferenciadas que se pode distinguir somente pelo olhar. Ou pelo sentir.
Existem pessoas que vieram até aqui com o único objetivo de fazer o bem. E arrisco dizer que o bem sem saber é mais proveitoso, mais delicado, mais simples, eu diria. Não é preciso esforço algum, apenas estar presente.
Tenho um amigo que provoca um bem maravilhoso sem dizer uma palavra. E se for realmente essa a sua missão na Terra, de mim, ele jamais saberá.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Chorar com o coração




Chora-se com o coração quando a dor é forte, quando a alma pede, quando a tristeza se acomoda. Chora-se com o coração não por dores físicas, mas dores da alma. Dores que não vão embora com remédios, que ficam ali, atrapalhando o nosso sono, e se fazem dores. Chora com o coração quem tem medo de amar. Medo de sofrer com o amor. E medo de ser feliz pra sempre também.
Chora-se com o coração quando os olhos já estão cansados, quando as lágrimas não encontram outro caminho. Chora-se por sonhos não realizados, por ansiedade, por derrotas que não deveriam ser nossas. O choro do coração é definitivamente diferente do choro dos olhos. Os olhos jamais seriam capazes de demonstrar tamanha sinceridade e desespero. A sinceridade da alma e o desespero do corpo. Chora-se com o coração quando não é preciso dizer mais nada, só chorar...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


Essa antiga história de não falar se faz presente em nossas vidas há bons e longos anos. Ela chega devagar, sem fazer barulho, e de repente, já estamos rendidos. A vontade sem a coragem. O desejo junto do medo. A nostalgia lado a lado com a indiferença. Por vezes acreditamos fielmente que ser indeferente é o melhor a se fazer. Afinal, quem gosta de ter alguém que diz o tempo todo o que sente e o que quer da vida?
Eu gosto. Gosto sim. Gosto de quem possui essa incrível capacidade de demonstrações. Tanto do medo quanto do amor. Sabe lá quanto vale um sorriso inesperado, uma palavra doce junto de um carinho bondoso, sabe lá... Perdemos grandes chances o tempo inteiro pela teimosa mania de viver a espera de. Deixamos todas elas irem embora pelo simples fato de que não queremos nos render aos sentimentos. Às vontades. Às palavras. Às dores. E até mesmo aos segredos mais profundos.
Acredito que viemos até aqui com o único objetivo de dividir. Dividir solidão. Dividir afeto. Dividir respeito. E todo tempo parece pequeno demais quando finalmente descobrimos isso. Quando finalmente percebemos quantas chances nos escaparam por entre os dedos. Quanta sorte jogamos fora. Quanta saudade deixamos guardada pra nada. Pra nada...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Perda dos traços

Tem vezes que paro pra pensar em como se faz a perda dos traços. Não a dos laços, a dos traços mesmo. Em como o tempo e a vida, com suas agressividades distintas, tem a capacidade de nos fazer esquecer o que parecia tão importante pra nós. E não é que não tenha sido. Mas acredito que com o viver e o passar dos anos, nossa velha e boa gaveta de memórias reserva apenas o que deve ser lembrado.
Que crueldade, não? Sem ao menos nos perguntar, pedir um palpite ou uma ajudinha aqui e ali, nossa mente escolhe dedo a dedo o que devemos, e não o que queremos lembrar. É claro que existem épocas marcantes, casamentos, aniversários, celebrações de todo o tipo. Mas não falo disso, não falo dos laços. Das pessoas e de todos esses momentos certamente iremos nos lembrar, não me restam dúvidas de que existem, sim, pessoas que quero carregar para todo o meu sempre, e que vou carregar. Eu falo dos traços. Da suavidade dos sorrisos, da leveza das mãos, dos olhares marcantes, das pequenas palavras não ditas, até da voz eu falo. Como somos capazes de esquecer o timbre da voz de quem foi tão importante? É quase uma traição. Mas a culpa, se é que assim devemos chamar, é do tempo, das necessidades e da nossa própria mente.
O esquecimento dos detalhes - ou traços - mesmo que valorizados, se tornam incontroláveis. E não há muito o que fazer sobre isso. Conforme há o enchimento de uma gaveta, é natural que retiremos os objetos menores para dar espaço aos maiores. Talvez seja melhor lembrar por um todo, não pelo pouco. Talvez...