sábado, 22 de janeiro de 2011

Perda dos traços

Tem vezes que paro pra pensar em como se faz a perda dos traços. Não a dos laços, a dos traços mesmo. Em como o tempo e a vida, com suas agressividades distintas, tem a capacidade de nos fazer esquecer o que parecia tão importante pra nós. E não é que não tenha sido. Mas acredito que com o viver e o passar dos anos, nossa velha e boa gaveta de memórias reserva apenas o que deve ser lembrado.
Que crueldade, não? Sem ao menos nos perguntar, pedir um palpite ou uma ajudinha aqui e ali, nossa mente escolhe dedo a dedo o que devemos, e não o que queremos lembrar. É claro que existem épocas marcantes, casamentos, aniversários, celebrações de todo o tipo. Mas não falo disso, não falo dos laços. Das pessoas e de todos esses momentos certamente iremos nos lembrar, não me restam dúvidas de que existem, sim, pessoas que quero carregar para todo o meu sempre, e que vou carregar. Eu falo dos traços. Da suavidade dos sorrisos, da leveza das mãos, dos olhares marcantes, das pequenas palavras não ditas, até da voz eu falo. Como somos capazes de esquecer o timbre da voz de quem foi tão importante? É quase uma traição. Mas a culpa, se é que assim devemos chamar, é do tempo, das necessidades e da nossa própria mente.
O esquecimento dos detalhes - ou traços - mesmo que valorizados, se tornam incontroláveis. E não há muito o que fazer sobre isso. Conforme há o enchimento de uma gaveta, é natural que retiremos os objetos menores para dar espaço aos maiores. Talvez seja melhor lembrar por um todo, não pelo pouco. Talvez...